A comunidade quilombola de Santana do Arari, distante três horas de barco do município de Ponta de Pedras, na ilha do Marajó, recebeu uma equipe de 40 profissionais, dos 200 que atuam na caravana Pro Paz Cidadania Presença, na manhã desta segunda-feira (27). A ação beneficiou mais de 200 famílias com a oferta gratuita de emissão de documentos, atendimento e orientação psicossociais, coleta sanguínea, consultas clínicas e pediátricas, vacinação, vigilância e combate a endemias.
Entre as inúmeras expectativas da comunidade, os atendimentos de saúde foram os mais esperados. “Identificamos que jovens e idosos sofrem com problemas cardíacos e com hipertensão. Os jovens, devido à doença ser hereditária, e os adultos, porque se alimentam com comidas muito salgadas. A comunidade estava muito carente desta ação”, destacou o agente municipal de saúde Haroldo Vieira Ferreira.
Segundo Haroldo, o sal é um vilão presente na cozinha de comunidades distantes, pois é usado para conservar alimentos, já que a energia elétrica é deficitária. O pescador Sidney Juvenal da Silva, 49, é hipertenso, cardíaco e diabético. Consumidor de alimentos salgados, ele acredita que a doença é hereditária, mas que a alimentação influenciou na sua complicação.
“Já fiz alguns exames em Ponta de Pedras e Belém, mas o acompanhamento de minha doença é muito difícil. Para conseguir uma consulta temos que amanhecer nas filas e pagar passagens. Não temos dinheiro nem para comprar os remédios, que dirá ficar se deslocando”, desabafou Sidney.
Cidadania – Concomitante aos atendimentos médicos e sociais, servidores da Polícia Civil, Defensoria Pública, Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas) trabalhavam empenhados em emitir aos moradores de Santana do Arari documentos que são de direitos garantidos por lei, sensibilizando-os de sua importância para inseri-los em políticas públicas.
“A Seas veio até a comunidade de Santana para combater o subregistro e emitir as primeiras e segundas vias da certidão de nascimento. Para fazer este trabalho, trouxemos duas assistentes sociais e uma psicóloga para fazer o atendimento destas famílias”, explicou a gerente da Seas, Isouda Louchard.
Foi o caso da pequena Nicole Ferreira, que esperou três anos para ter seu registro de nascimento. A mãe, Giceli Ferreira dos Santos, justificou que o registro da filha não saiu antes porque o avô queria registrar a neta e beneficiá-las com direitos previdenciários. “Esperei meu pais durante três anos e ele não registrou a Nicole, então decidi que não ia mais esperar, precisava tirar o documento da minha filha”, frisou. O registro civil é garantido por lei e é gratuito para crianças de zero a onze anos incompletos.
O Pro Paz Cidadania Presença Viva concentrou seus serviços em Santana do Arari, mas recebeu moradores das comunidades Santa Maria, Tartaruguinha, Porto Santo, Crairú, Ipauaçú, Guajará, Lanraheira, Fábrica e Curral Panema. Nesta terça-feira (28) a equipe segue para o município de Muaná.