A arte criada a partir da fibra de jupati, um
tipo de artesanato marajoara, deu forma à exposição “Mulheres de Fibra”, que
será aberta amanhã, 26, às 18h, no Espaço São José Liberto - Polo Joalheiro do
Pará. A mostra, que poderá ser visitada até o dia 29 de novembro, é resultado
do projeto “Mulheres da Fibra de Jupati: Tecendo a Vida com Arte”, proposto
pela artesã Maria do Socorro Ferreira e contemplado com financiamento do
Ministério da Cultura (MinC).
Maria do Socorro e outras 11 artesãs do
município de São Sebastião da Boa Vista formam o Grupo Arte em Fibra de Jupati,
e apresentarão na mostra não apenas produtos de qualidade, carregados de
identidade cultural, mas os sonhos de cada uma dessas mulheres, materializados
em forma de acessórios de moda e decorativos.
As peças revelam, com requinte e
criatividade, as várias formas de utilização da fibra. O grupo, criado em 2012,
é composto por gerações diferentes de mulheres, todas habilidosas artesãs. São
elas: Rosabeth Martins Costa, Rosa Maria Ferreira, Marly do Socorro Naum,
Marlene Naum Costa, Maria Gorete Martins, Marisa Rocha, Marília Rocha, Renata
Costa, Liliene Veiga, Raylana Costa, Érica Cunha Soares e a proponente do
projeto, Maria do Socorro. As peças fazem parte de uma coleção de bolsas,
brincos, braceletes, pulseiras, tiaras, colares e utensílios de decoração. A
ambientação do local de exposição é da arquiteta Terezinha Abrahim e remete ao
modo de vida das artesãs. O trançado da fibra de jupati - matéria prima
retirada do Jupatizeiro, uma palmeira característica da vegetação no entorno
dos igarapés do município -, é uma prática antiquíssima da qual não se possui
registros históricos de suas origens.
Maria do Socorro aprendeu com a sogra a
trançar a fibra, aos 15 anos de idade. Ela também ensinou o trançado para as
filhas - duas delas integram o coletivo. As meninas aprendem desde cedo e a
história se repete em várias famílias da localidade, sendo a prática do
artesanato exclusiva de mulheres. As boavistenses dividem o tempo delas entre a
pesca e o artesanato, atividades que garantem o sustento de suas famílias.
Há alguns anos, com a consultoria de
designers paraenses, as artesãs começaram a criar acessórios de moda, atividade
aprimorada desde 2013, com o desenvolvimento do projeto do MinC. A ação levou o
artesanato de fibra de jupati a conquistar, efetivamente, novos mercados e
segmentos criativos: a moda e o design.
Hoje, a artesãs dedicam um tempo maior para a
confecção dos produtos de moda, além dos habituais. Elas estão agregando o que
já sabiam - conhecimento tradicional e empírico - com novas formas de fazer o
artesanato. Rosabeth Costa, 43, uma das artesãs do grupo, diz que, com a
criação das novas peças, a exigência ficou maior. “(Os acessórios de moda)
exigem mais porque o acabamento não é com a fibra, mas com costura, viés, pano,
linha e agulha; tudo feito à mão”, conta.
“Hoje, quando eu vejo a gente produzindo
bolsas eu fico imaginando: ‘Meu Deus, eu nunca pensei em fazer da fibra uma
bolsa. Nunca passou pela minha cabeça’. Então, os cursos do Sebrae e o projeto
(do MinC) foram um presente. Oportunidade não só para mim, mas para todos daqui
de São Sebastião da Boa Vista”, observa a artesã Maria do Socorro.
Fonte: O Liberal.