Dois recados, diretos e
incisivos, sem nenhuma margem para tergiversações, marcaram ontem a primeira
reunião da coordenação executiva para o Plano de Desenvolvimento Territorial
Sustentável do Arquipélago do Marajó. O primeiro, que a população marajoara já
chegou ao limite, quer ações efetivas e exige para o arquipélago um tratamento
diferenciado e prioritário. O segundo recado, que as discussões sobre o plano,
retomadas agora depois de sete anos de inércia quase total, é apenas um crédito
de confiança aos governos, uma simples renovação de esperanças.
Assim se manifestaram,
diante de atentas autoridades vindas de Brasília, a presidente da Associação
dos Municípios do Arquipélago do Marajó, Consuelo Castro (PSDB, prefeita de
Ponta de Pedras), o presidente da Federação das Associações de Municípios do
Estado do Pará (Famep), Helder Barbalho. Os prefeitos Sérgio Murilo dos Santos
Guimarães (PR), de Muaná, e Getúlio Brabo (PT), de São Sebastião da Boa Vista,
se queixaram principalmente da falta de agências bancárias nos municípios da
ilha.
O Plano de Desenvolvimento
Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó tem como premissa básica
sistematizar ações e unir esforços envolvendo os três níveis de governo
–federal, estadual e municipais.
Consuelo Castro chamou a
atenção para a dramática situação financeira em que se encontram todos os municípios
do Marajó. As prefeituras, a rigor, só podem contar para investimentos, parte
do custeio e gastos eventuais, com míseros 10% do orçamento, já que 60% cobrem
as despesas com pessoal, conforme dispõe a Lei de Responsabilidade Fiscal, e
nada menos que 40% são recursos “carimbados”, sendo 25% para a educação e 15%
para o setor de saúde.
A presidente da Amam
considerou particularmente grave o gargalo existente hoje na área da educação,
sobretudo para os jovens. Os que concluem o segundo grau, conforme frisou,
sentem-se em sua maior parte impedidos de continuar os estudos porque não há a
oferta de cursos de nível superior. “É doloroso ver um jovem inteligente,
estudioso, com futuro promissor, não ter outra perspectiva de futuro senão a de
colher açaí”, disse ela.
Participaram também da
reunião os prefeitos de outros nove municípios – Xarão Leão (PMDB, Breves),
João Luiz (PT, Soure), Léo Arruda (PT, Curralinho), Marcelo Pamplona (PT, Santa
Cruz do Arari), Benedito Vasconcelos de Oliveira Filho, (PSD, Cachoeira do
Arari), Eliudo Santos Pinheiro (PP, Afuá), Raimundo Nogueira (PT, Gurupá),
Solange Lobato (PMDB, Chaves) e Paulo Ferreira (PP, Portel).
Ministério não assume os
investimentos no Marajó
Representando a Casa Civil
na reunião ontem, na Sudam, o subchefe adjunto de análise e acompanhamento de
políticas públicas governamentais, Johaness Eck, mostrou-se evasivo ao falar de
possíveis investimentos no arquipélago marajoara. Disse que, em breve, os
números serão conhecidos. Segundo ele, as ações direcionadas para a Ilha do
Marajó, como para todo o resto do Brasil, são incluídas individualmente no
orçamento próprio do ministério respectivo, que executa (ou não) as ações de
sua área previstas no orçamento.
Johaness Eck disse que
foram feitas diversas ações, mas reconheceu que foram aquém da demanda. Como
exemplo, citou o caso da linha de transmissão que vai levar energia firme de
Tucuruí para o Marajó. “Estamos conduzindo o projeto à frente, com a
programação de levar energia firme a todos os municípios marajoaras nos
próximos dois anos”, aduziu. Ontem, ocorreria ainda a reunião do Fórum de
Gestores Federais do Pará, para definir o quadro de ações do governo federal no
estado.
Texto: DOL